Com este blog pretende-se dar a conhecer um pouco do espirito que irá rodear a equipa de Infantis na proxima temporada.
Procuraremos informar e incentivar tanto os jogadores como o publico que nos ira acompanhar.
Este Blog é informativo, elaborado por simpatizantes do H.C. Sintra, e não reflecte as posições oficiais do Clube ou dos seus dirigentes.
A Administração do blog reserva-se o direito de analisar e autorizar, ou não, a publicação de todos os comentários excluindo todos aqueles que não respeitem os parametros defenidos para o presente.

Plantel 2007/2008

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Treino desportivo...a influência da teoria

"...nunca consegui perceber o porquê de se trabalhar
a velocidade em linha recta nos jogos desportivos...
Mas mais estranho ainda, é o treino desta capacidade
sem bola! Será que ser rápido aos 30 metros
é um garante para ser rápido no jogo? "


Uma possível definição para a palavra Teoria poderá muito bem ser a seguinte: uma teoria não é mais que um sistema organizado de ideias e conceitos que pretendem explicar determinado fenómeno. Assim, com a natural alteração dos mais diversos fenómenos, uma teoria que se queira actualizada terá também ela de acompanhar a evolução do fenómeno em causa, para desta forma não ficar descontextualizada…terá de se revestir constantemente de novas roupagens e influências.

Sendo o desporto um fenómeno em constante evolução, a sua teoria – se é que podemos reduzir o treino desportivo a uma só teoria, não está imune a esta necessidade de constante reformulação. Nenhum de nós tem dúvidas que hoje em dia não se treina da mesma forma que se treinava há 20 ou 30 anos atrás, qualquer que seja a modalidade que analisemos

Se fizermos uma retrospectiva na “história” do treino, facilmente nos apercebemos das diferentes contextualizações, ou, se quisermos, de algumas adaptações que a própria teoria de treino sofreu ao longo dos tempos. O processo de treino dos jogos desportivos colectivos nos seus primórdios era baseado pura e simplesmente na prática mais ou menos constante desses mesmos jogos, a sessão de treino mais não era que a repetição sistemática do próprio jogo.

Com o passar do tempo, e com o cada vez maior interesse pelo jogo, novas dificuldades surgiam, e para fazer face às mesmas, houve necessidade de encontrar novas soluções. Assim, entendeu-se que o necessário, e até mesmo determinante, para que o jogador obtivesse sucesso no jogo e, por conseguinte, a equipa dominasse, era que os seus intervenientes fossem detentores de excelentes capacidades técnicas. Surgem as sessões de treinos baseados em exercícios analíticos das técnicas consideradas fundamentais ao sucesso, que, muitas das vezes, eram exercitadas de formas completamente descontextualizadas do jogo. Estávamos num período a que podemos chamar de exercitação analítica. O pressuposto baseava-se em que quanto maior o domínio da técnica pura nos treinos, mais fácil seria a sua aplicação na competição.

Com o passar do tempo, este domínio da técnica deixou de responder só por si às exigências da realidade da competição e novas necessidades se fizeram sentir.

Na procura de respostas para estas novas necessidades aparecem as influências dos desportos individuais, que, dado um conjunto de circunstâncias, encontravam-se “mais evoluídos” no que à cientificidade do treino diz respeito, e destes deu-se um especial destaque para o atletismo.

Com esta influência, começa um período que podemos denominar de “trabalho físico”, no qual o importante era o desenvolvimento até ao limite das capacidades físicas consideradas fundamentais ao jogo. Ainda que estas influências tenham sido muito úteis e vantajosas para o treino dos jogos desportivos colectivos, com o passar do tempo, constatou-se que o papel de um jogador nos jogos colectivos é muito mais complexo que o “correr” ou “saltar” com uma bola ou atrás dela…

Ultimamente, no treino para os jogos desportivos colectivos, entende-se que o fundamental é uma perfeita simbiose de ambas as capacidades técnicas e físicas, sem esquecer o aspecto táctico. Surgem os denominados treinos integrados, nos quais o principal objectivo é o desenvolvimento de aspectos físicos com alguma aplicação da técnica.

A presença da bola nestas sessões é uma constante, de forma a evitar a monotonia do trabalho físico. Contudo, a sua presença não tem outro objectivo que não seja o de “enganar” a mente dos atletas sobre o objectivo real da sessão de treino. São as longas corridas de um lado para o outro e que a meio há um passe, ou uma assistência.

Mais recentemente, porém, e segundo as mais recentes teorias do treino, tanto o trabalho físico quanto o técnico e até mesmo o táctico, devem assentar a sua exercitação em actividades nas quais se verifiquem as seguintes premissas: capacidade de análise da situação, seguida da tomada de decisão, e por conseguinte, realização ajustada à realidade Jogo e seus Tempos/Espaços.

Com esta filosofia de trabalho, os aspectos técnicos e físicos são importantes, mas o mais importante é que o seu desenvolvimento seja realizado através e em conjunto com os fundamentos e condicionantes do jogo em causa e tendo em conta as características pessoais de cada atleta. Neste tipo de trabalho há todo um conjunto de questões relacionadas com o jogo que têm de estar presentes nas propostas de treino, como sejam, as sensações e emoções retiradas do jogo por cada atleta. É o que se pode chamar treino ecológico. Neste tipo de treino, deverão estar presentes todas as condicionantes que os atletas encontram no jogo, assim, os exercícios deverão estar subordinados aos condicionalismos do próprio jogo.
A título de exemplo, nunca consegui perceber o porquê de se trabalhar a velocidade em linha recta nos jogos desportivos. Normalmente no jogo , e tirando algumas situações, a manifestação desta capacidade não se manifesta em linha recta, acresce sempre mais alguma condicionante: um desvio, uma mudança de direcção, entre outras. Mas mais estranho ainda, é o treino desta capacidade sem bola! Será que ser rápido aos 30 metros é um garante para ser rápido no jogo? A prática diz que não. No jogo é muito mais importante ser rápido a decidir e a prever, do que a “deslocar” até porque a tendência actual da grande parte dos jogos é para reduzir o tempo que o atleta tem para tomar decisões.

Os jogos estão cada vez mais velozes e não é só porque os atletas são mais ligeiros, mas, essencialmente, porque as decisões que estes tomam são mais eficazes e mais rápidas. Posto isto, e se uma das funções do treino é preparar o atleta/equipa para a competição, é de todo importante que as solicitações do mesmo estejam revestidas das mesmas solicitações e sejam treinados em condições em tudo idênticas ao jogo.

Os agentes que pensem de forma contrária facilmente deixarão de poder competir com os seus pares.

Nota- Para complemento deste texto, sugiro a leitura do texto “Tomada de decisão e o treino… de jovens” colocado a 2 Julho de 2007.

PS – Pelo que atrás foi dito, há necessidade, cada vez mais, de temos de ter cuidado para não cair no exagero de somente fazer jogo nos treinos, como se esta fosse a forma mais correcta de o fazer. Esta situação deverá ocupar grande parte do treino , mas com as devidas imposições. E não nos podemos esquecer que o “jogo” pode revestir-se de três roupagens diferentes: jogo formal, jogo reduzido e jogo condicionado, cabe a cada um de nós saber usar das vantagens e desvantagens de cada um deles.

Trabalho da autoria de:
FRANCISCO MENDES
Licenciado em Educação Física Treinador Hóquei em Patins (Nível 2)
Patinado-Hoquei em Patins

Sem comentários: